Isso irá destruir você.



Em momento algum da minha vida eu tinha decidido que de alguma forma deveria continua-la. Simplesmente ocorreu de continuar e desde então a história se torna interminável. Quantos minutos terá essa fase da minha vida? 36 minutos e 13 segundos? É muito pouco perto de tudo o que eu poderia dizer. E quando tocam os sinos que atiçam os meus sentidos para meus momentos de melancolia eu somente resolvo surgir e escrever sobre esse conteúdo incógnita sem forma e tradução que existe em minha mente. De onde vem a inspiração para me aprofundar no mais delicado do meu interior? Quantas batidas do meu coração escutarei em boa sonoridade até que eu consiga decifrar cada código de momentos e de lembranças que eu aprisionei ao longo da minha vida dentro de mim? 2147 é o número de vezes que meu coração irá bater aqui. E enquanto dentro de minha cabeça ocorrem centenas de conflitos mentais e faço essa viajem interminável tentando resgatar a mim mesmo de meu interior, o tempo passa rapidamente e ainda sim numa eternidade. O passado é se deprimir. O presente é se atordoar. O futuro é o excesso de ansiedade e ao mesmo tempo a falta de esperança. Não sei dizer se a minha viajem é em busca de um caminho em uma linha atemporal ou se há algo grandioso ainda pela frente que talvez um dia eu chegue a descobrir. Os ruídos que são provas da minha existência por aqui são inclusive os fragmentos que decodificados dirão que isso pode me destruir. Isso é forte, doloroso, angustiante, agonizante e me causa temor. Sou acostumado com isso pois por muito tempo estamos juntos e não temos como nos separar, pois isso é nato. Tão nato que no momento da minha destruição estará ao meu lado dando-me força para acabar comigo. O fim é a salvação. O meu eu aprisionado dentro de mim grita e grita muito sem ninguém poder ouvir. Cada ação, palavra, atitude, sorriso e sinceridade expressas são traduzidas em Me Ajude e Me Salve.
E são alterados os timbres da linha da minha vida que até o momento não sei se ainda estou em uma linha de tempo ou espacialmente viajando pelo infinito. Eu vejo uma rede multidimensional em cima e em baixo de onde estou flutuando desacordado e olhe que até agora eu estava sentado em minha cama em frente ao meu notebook escrevendo isso. Deixe ir! Deixe que vá pois se algo vai é porque tem de ir e se algo vem é porque tem de vir. Não acelere pois a viajem não tem fim então poderá aproveitar cada momento que é destinado a você. O momento é seu, cada momento é seu então continue a partir e não se questione por isso, apenas seja e esteja la. Isso é o que eu escuto dentro de minha cabeça quando me lembro da pequena chama azul da esperança que existe dentro de mim. Nos acontecimentos mais perturbadores essa voz surge para me lembrar disso e por isso ainda estou aqui, felizmente ou infelizmente decodificando essa incógnita interior. Eu torço para que o fim se aproxime e eu esteja apenas em um estado de lamentação sobre minha própria alma e meu próprio corpo. Agora que estou aprendendo a sentir pena de mim mesmo já que ninguém nunca sentiu, por que é que eu deveria parar? É a minha vez de dar o mínimo de consideração pela pessoa mais importante que já conheci, eu mesmo. Não que eu seja egoísta mas só existe eu nesse mundo, então esse é o meu dever. Nesse mundo. Em outro mundo ninguém sentiu pena, nesse é diferente e é confortante. Talvez seja esse mundo que eu buscava incessantemente dentro de mim mesmo. Agora posso me enterrar aqui e sair livremente para conhecer os mundos afora. Ou não, possa ser outra ilusão torturante que eu acho que conheço e estou acostumado mas está apenas pregando uma peça em mim. Enquanto ainda flutuo e vejo aquela luz adiante me pergunto o que é que estou fazendo e para onde estou indo, mesmo sabendo que eu não deveria me questionar é claro. Uma de minhas maiores características sempre foi ser teimoso, mas o que é uma característica negativa ou positiva senão o que define minha personalidade? E o que é minha personalidade em um mundo que somente eu existo? Creio que eu não deva me preocupar com isso, aqui não tem ninguém para me julgar. Aqui nessa vastidão infinita e flutuante que me direciona para uma luz intrigante. E atravessando essa luz outra reviravolta nessa fase da minha vida que nem mesmo sei explicar acontece. Sou lentamente posto de joelhos no chão rachado de um deserto repleto de arvores secas e queimadas onde atrás de mim há um muro de terra com vinhas saindo por entre as frestas e enrolando-se em meus braços, pernas e pescoço mantendo-me meramente suspenso e não totalmente largado pelo chão. Essas vinhas parecem querer manter minha cabeça erguida para que eu não caia na ilusão de um verdadeiro fim e momento de redenção. E aliás, a quem estou esperando que me venha pedir perdão? Já que aqui de nada sou culpado a não ser de ter ousado tentar viver. Cada pessoa que vi passar em minha vida está aqui diante de mim me pedindo perdão por muitas coisas, e me lembro de cada uma delas, as mágoas nunca me deixaram esquecer. E ao terminarem de pedir perdão, para onde irão? Porque é que estão desaparecendo agora que as mágoas foram incineradas com o calor do deserto das lamentações? Somente eu me tornei o único ser iluminado ali, preso pelas vinhas do apoio e obras da esperança. Aquela pequena chama azul tinha um poder imensurável e se não fosse ela por quanto mais eu teria que vagar dentro do vácuo do infinito atemporal? Por quanto tempo fosse preciso até no deserto das lamentações eu aterrissar.
Mas isso é um labirinto que a cada batida do meu coração mudam-se as armadilhas e os caminhos sem fim.
Agora me restam apenas 360 batidas para tentar escapar das armadilhas que eu mesmo construí guiado pela minha mente deturpada, surrada e desiludida pela realidade onde existe o corpo em que habito. Há seres que surgem apenas para que você um dia tenha vários porquês para perdoa-los. Há também aqueles que você se afundará para dentro de si mesmo tentando subconscientemente achar uma razão pelo qual deveria perdoar o incabível que lhe foi cometido por esse ser. Há aqueles que seu tempo irá acabar e você não terá sequer cogitado a possibilidade de enobrecê-los com o perdão e nem mesmo enobrecer-se. E por essa razão você se questiona e se enterra cada vez mais profundamente em um complexo de tortura, um paradoxo de conflitos, um emaranhado de certeiros nãos seguidos de errôneos sins que te pegarão desprevenidos enquanto não sabe mais como respirar em meio a tanto fogo e fumaça causados por seu cérebro, sufocadamente procurando se salvar de si mesmo, livrar-se de si mesmo, fugir dos monstros criados por você, esconder-se das garras de seus próprios filhos que alimentaram-se de seus conflitos mentais, que atordoam-te cada vez mais, que o fazem clamar por paz e por salvação, terminam-se os 36 minutos e 13 segundos, as 2147 batidas do coração e isso irá destruir você.

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